Formação de Samskaras no Cotidiano
Exemplo: Ana e a Reação ao Trânsito
1. Primeira Experiência (Fase de "Impressão")
Estímulo (Phassa) ou Forma (Rupa): É o fato que acontece no mundo fenomênico.
Ana está dirigindo e um motorista fecha seu carro bruscamente.
Sensação (Vedana): Ela sente um susto seguido de irritação (sensação desagradável).
Percepção (Samjña) ou (Sañña) A mente dela rotula: "Esse motorista é um irresponsável!"
Formação Mental (Samskara):
Impressão na Consciência (Vijñãna):
- A raiva gera um padrão mental ("trânsito = perigo + gente rude").
- Esse padrão é armazenado como uma tendência latente (vasana).
2. Repetição (Fase de "Reforço")
Toda vez que Ana passa por situações similares (outros motoristas fechando ela), o mesmo samskara é ativado:
- Reação automática: Irritação, xingar, buzinar.
- Resultado: Quanto mais ela reage com raiva, mais o samskara se fortalece.
3. Generalização (Fase de "Condicionamento Profundo"):
Agora, mesmo em situações menos graves (ex.: um carro mudar de faixa devagar), Ana já reage com impaciência.
4. Impressão da tendência condicionada na Consciência (Vijñãna skandha):
A tendência de ser agressiva no trânsito passa a ser a "natural" e automática. Um novo hábito foi criado: o hábito de reagir violentamente ao trânsito, em situações específicas.
Um novo ego foi adicionado ao feixe de egos já pré-existentes na personalidade de Ana, o ego (violento e reativo) que assume o controle da personalidade quando Ana está dirigindo.
Por fim, a tendência de reagir daquele modo é impressa ou "guardada" no skandha da consciência e pela repetição, passa a determinar (com influência quase irresistível) o comportamento da personalidade, levando-a a praticar atos, emoções e pensamentos que geram mais e mais karma.
Mas, de que forma essas "tendências" (skandhas) geram Karma?
- Deste modo:
1 - A reação ao trânsito gera maus pensamentos (karma mental): o desequilíbrio mental causado pela reação violenta vai iniciar, na sequência, o processo de resposta e desequilíbrio do corpo mental, que vai expressar as sugestões vindas da mente, como monólogos do tipo: "Quem ele pensa que é?", "Ah, isso não vai ficar assim, mesmo!", "Vou fazer bem pior!" e pensamentos do gênero.Neste ponto já se encontra instalado o karma mental, gerado pelo pensamento.
2 - A reação ao trânsito gera mau humor (karma emocional): a expressão de emoções negativas desequilibra e envenena todos os corpos (mental, emocional, energético e físico), drenando as energias sutis reduzindo o padrão vibratório da Alma e isto por si só já seria motivo suficiente para justificar a importância de eliminar as tendências (skandhas).
Na realidade, quem tem um conhecimento mais aprofundado da fisiologia sutil dos corpos sabe que não existe um lugar específico ou apropriado nos corpos do homem para se armazenar as emoções negativas.
Elas (as emoções negativas) são acumuladas no corpo emocional sob a forma de um "tumor", um apêndice externo ao corpo astral.
A verdade, é que elas, pelas leis da natureza, nem deveriam existir.
A emoção negativa é uma aberração no sentido literal da palavra.
Neste sentido, para aqueles que querem buscar mais informações sobre o tema, o esoterista e estudioso russo P. D. Ouspensky, discípulo do sábio greco-armênio Mestre George Gurdjieff, que em seu livro "O Quarto Caminho" (The Fourth Way - 1957) descreve este processo e sua fisiologia de modo meticuloso.
3 - Por conta do seu mau humor ela trata mal seus colegas de trabalho (karma da ação - físico): Agora, além do karma mental provocado pelos pensamentos, do karma emocional provocado pelas emoções negativas (mau humor), soma-se-á ao fato o agravante do karma físico, ou seja houve a geração do karma no mundo físico provocado pela ação (tratar mal os colegas de trabalho).
4 - A tendência de reação influencia suas ações reinteradamente (ela vai se habituar, gradual e imperceptivelmente a tratar mal outras pessoas por causa do trânsito).
5 - A reação praticada reiteradamente cria um ciclo kármico ascendente, gradual e difícil de ser interrompido: O ciclo de formação e fortalecimento dos samskaras se retroalimenta: Mais raiva → mais ações negativas → mais experiências futuras de conflito → mais raiva...
Como Ana Pode Quebrar Esse Círculo?
- Consciência (Sati): Perceber a raiva surgindo, sem reagir automaticamente."Estou sentindo irritação... isso é um samskara antigo."
- Pausa e Respiração: Interromper o impulso antes de agir.
- Reinterpretação (Prajña):"Talvez o motorista nem me viu... não é pessoal."
- Enfraquecer o Samskara:Quanto menos Ana alimenta a raiva, menos força o padrão mental terá.
Exemplo 2
O Jardineiro Preguiçoso, o Medo de Cobras e a Formação dos Samskaras
(Um Exemplo Didático sobre como Padrões Mentais se Formam e se Fortalecem)
Contexto:
Imagine Rafael, um jardineiro responsável por um imenso jardim. Ele é naturalmente preguiçoso e evita trabalhos árduos. Um dia, enquanto podava os arbustos, quase pisa em uma cobra. O susto foi tão intenso que, desde então, ele passa a evitar certas áreas do jardim.
Vamos analisar como essa experiência forma samskaras (padrões mentais) e como eles se imprimem na consciência dele.
1. O Incidente Inicial: O Susto com a Cobra
(Fase de "Impressão" do Samskara)
Estímulo (Phassa): Rafael vê uma cobra no jardim e quase pisa nela.
Sensação (Vedana): Ele sente medo intenso (reação física: coração acelerado, suor frio).
Percepção (Samjña): Sua mente rotula: "Jardim = perigo de cobras!"
Formação Mental (Samskara):
O cérebro associa jardim mal cuidado → cobras → perigo.
Esse padrão é armazenado como uma tendência latente (vasana).
Resultado: Rafael começa a evitar áreas com mato alto, mesmo sem ver cobras.
2. Reforço do Samskara: A Preguiça e o Medo se Alimentam
(Fase de "Cristalização" do Padrão)
Evitação: Por preguiça, Rafael deixa de cortar a grama em certos locais.
Consequência: O mato cresce, criando o ambiente perfeito para cobras.
Loop Mental:
Quanto mais ele evita, mais o jardim fica abandonado.
Quanto mais abandonado, maior seu medo (afinal, agora há realmente mais cobras).
Generalização:
Ele passa a temer todo o jardim, não só as áreas de risco.
Até o som do vento nas folhas dispara ansiedade ("Será uma cobra?").
3. A Impressão na Consciência: O Jardim como Símbolo de Perigo
(Como o Samskara Distorce a Realidade)
Agora, a mente de Rafael opera assim:
Viés de Confirmação:
Ele só nota os momentos em que acha que viu cobras (mesmo que sejam galhos).
Ignora os dias em que nada aconteceu.
Memória Seletiva:
Lembra vividamente do susto inicial, mas não das 100x que trabalhou sem problemas.
Comportamento Automático:
Nem pensa mais: ao ver mato alto, já sente náusea e foge.
4. Como Quebrar o Samskara?
(Aprendizados do Budismo)
Rafael poderia:
Reconhecer o Padrão:
"Meu medo é um samskara, não um fato. Nem todo mato tem cobras."
Agir aos Poucos (Exposição Consciente):
Cortar o mato em pequenas áreas, com ajuda de ferramentas longas.
Observar que, na maioria das vezes, não há cobras.
Refazer as Associações Mentais:
Substituir "jardim = perigo" por "jardim bem cuidado = segurança".
Meditação/Mindfulness:
Respirar fundo quando o medo surgir, sem reagir automaticamente.