Os 6 Darshanas (Escolas Filosóficas) e o Shruti (Livros Sagrados do Hinduísmo)

DARSHANAS: são os seis sistemas de pensamento da filosofia hindu clássica.
O termo darshana significa “visão” ou “visão divina”.
As seis escolas são Ástikas, ou seja, ortodoxas.
Isso quer dizer que todas elas possuem a mesma fonte religiosa ou vinaia (disciplina), ou seja: os Vedas.

AS SEIS DARSHANAS OU SISTEMAS DE PENSAMENTO HINDU SÃO:

1) – Nyaya – a escola da razão e da lógica;
2) – Vaisheshika – é uma escola atomística que estuda a natureza da matéria;
3) – Samkhya – esta escola estuda a relação dualistica entre matéria (prakriti) e espírito (purusha);
4) – Yoga – é a escola que ensina a colocar a teoria do Samkhya em prática;
5) – Mīmāṃsā – escola cujo principal questionamento é a natureza do dharma, com base na hermenêutica dos Vedas;
6) – Vedanta – é uma escola que busca distinguir e “realizar” o ser individual através do conhecimento do “Ser” Universal.

1) – Nyaya: (literalmente “regra ou método de raciocínio”) é uma escola analítica fundada por Aksapada Gautama no Sec. II a.C. que se baseia em deduções lógicas.

A darshana Nyaya é uma das seis escolas ortodoxas (Astika) da filosofia hindu e é conhecida por seu foco na lógica e epistemologia.

Origem: a escola Nyaya foi fundada por Akshapada Gautama (também conhecido como Gotama) por volta do século II a.C. Ele é o autor do principal texto da escola, o Nyaya Sutra.

Linha Filosófica: a filosofia Nyaya é fundamentalmente uma filosofia lógica que visa estabelecer uma metodologia sistemática e rigorosa para adquirir conhecimento verdadeiro (pramana) e refutar conhecimento falso.

A epistemologia Nyaya reconhece quatro pramanas principais:

Percepção (Pratyaksha): Conhecimento direto através dos sentidos.

Inferência (Anumana): Conhecimento derivado logicamente a partir de premissas.

Comparação (Upamana): Conhecimento adquirido através da comparação e analogia.

Testemunho (Sabda): Conhecimento obtido de fontes confiáveis e autoritativas, como as escrituras.

Cânone:
O texto fundamental da darshana Nyaya é o Nyaya Sutra de Akshapada Gautama. Este texto é composto por cinco livros que discutem a lógica, a metodologia para adquirir conhecimento e a refutação de argumentos.

Principais Diferenças das Outras Darshanas:

Nyaya vs. Vaisheshika: Embora ambas as escolas compartilhem alguns princípios, Nyaya se foca na lógica e epistemologia, enquanto Vaisheshika se foca na metafísica e na teoria dos átomos.

Nyaya vs. Samkhya: Samkhya é uma escola dualista que se concentra na distinção entre Purusha (consciência) e Prakriti (matéria), enquanto Nyaya se concentra em desenvolver métodos lógicos para adquirir conhecimento.

Nyaya vs. Yoga: O Yoga, aliado ao Samkhya, enfatiza práticas de disciplina e meditação, enquanto Nyaya se dedica à análise lógica e racional.

Nyaya vs. Mimamsa: Mimamsa foca na interpretação dos rituais védicos e na justiça (Dharma), enquanto Nyaya foca na lógica e epistemologia.

Nyaya vs. Vedanta: Vedanta explora a natureza última da realidade (Brahman) e a relação entre Atman e Brahman, enquanto Nyaya é mais metodológica em sua abordagem lógica.

Principais Ideias e Objetivos
A principal ideia da Nyaya é que o conhecimento verdadeiro leva à libertação (moksha). A escola acredita que, por meio de um raciocínio lógico e argumentativo rigoroso, é possível alcançar a verdade e eliminar a ignorância, que é a raiz de todo sofrimento.

Os principais objetivos da Nyaya incluem:

Desenvolver métodos confiáveis para adquirir conhecimento verdadeiro.

Refutar falsos conhecimentos e crenças.

Estabelecer uma base lógica para a filosofia e a prática religiosa.

Promover o uso da razão e do pensamento crítico.

2) – Vaisheshika: é uma das seis escolas clássicas da filosofia hindu, conhecida por sua abordagem atomista e naturalista. Foi fundada pelo sábio Kaṇāda Kashyapa (ou Kana-bhuk, literalmente, “comedor de átomos”), também conhecido como Aulukya, por volta do século VI a.C. O nome “Vaisheshika” deriva de “viśeṣa”, que significa particularidade ou distinção.

O cânone da darshana vaisheshika é o Vaisheshika Sutra (ou Kanada Sutra), composto por Maharshi Kanada.

Este texto é a base da filosofia vaisheshika, uma das seis escolas ortodoxas (Astika) da filosofia hindu. O Vaisheshika Sutra é um conjunto de aforismos que aborda temas como metafísica, epistemologia e ética.

Além do Vaisheshika Sutra, a a darshana vaisheshika compartilha alguns outros textos fundamentais com outras escolas da filosofia hindu.

Além do Vaisheshika Sutra, os seguintes textos são comumente referenciados:

Vedas: Os quatro Vedas (Rigveda, Samaveda, Yajurveda e Atharvaveda) são considerados escrituras sagradas e são uma fonte de autoridade para todas as escolas ortodoxas (astika), incluindo a vaisheshika.

Upanishads: Textos filosóficos que exploram temas como a natureza da realidade e do eu, também são aceitos por várias escolas filosóficas, incluindo a vaisheshika.

Bhagavad Gita: Um diálogo entre Krishna e Arjuna que trata de questões filosóficas e éticas. Embora não seja um texto central para a vaisheshika, é respeitado e utilizado por muitas tradições hindus.

Brahmanas e Aranyakas: Comentários e explicações dos rituais védicos, que também fornecem fundamentos filosóficos.

Esses textos são fundamentais para a compreensão do pensamento e da prática hindus e são compartilhados por várias darshanas, apesar das diferenças em suas abordagens e ênfases

A filosofia Vaisheshika propõe que todos os objetos no universo são constituídos de átomos (anu) e que a combinação e interação desses átomos formam a base da realidade.

Principais Conceitos da Vaisheshika:

Padarthas (Categorias): A Vaisheshika classifica a realidade em seis categorias principais, conhecidas como padarthas:

Dravya (Substância): Inclui nove tipos de substâncias, como terra, água, fogo, ar, éter, tempo, espaço, alma e mente.

Guna (Qualidade): Refere-se às qualidades que residem nas substâncias, como cor, sabor, cheiro, toque, número, tamanho, separação, conjunção, e assim por diante.

Karma (Ação): As ações que ocorrem nas substâncias.

Samanya (Universalidade): A propriedade que permite a classificação de objetos em grupos.

Vishesha (Particularidade): A característica que distingue cada objeto individualmente.

Samavaya (Inerência): A relação inseparável entre substâncias e suas qualidades.

Teoria Atômica: A Vaisheshika propõe que todos os objetos no universo físico são compostos por átomos (paramāṇu). Esses átomos são indestrutíveis, indivisíveis e eternos. A combinação e a interação desses átomos formam a base de toda a matéria.

Epistemologia: A Vaisheshika aceita apenas duas fontes confiáveis de conhecimento:

Percepção (Pratyaksha): Conhecimento obtido através dos sentidos.

Inferência (Anumana): Conhecimento derivado da lógica e dedução.

Objetivo Final: O objetivo da Vaisheshika é alcançar a liberação (moksha) através do conhecimento completo e correto do mundo e de suas categorias. Acredita-se que a compreensão das padarthas leva à libertação do ciclo de nascimento e morte.

A Vaisheshika é frequentemente estudada em conjunto com a escola Nyaya (de Gautama), pois ambas compartilham muitos princípios filosóficos, embora a Vaisheshika tenha suas próprias distinções em epistemologia e metafísica

Esta escola também versa sobre a futilidade ou ilusão provocada por Maya (a natureza manifesta) e expressa uma forma de atomismo que postula que todos os objetos do universo físico são redutíveis a um número finito de átomos.

3) – Samkhya: do sânscrito “enumeração”. Foi revisada pelo sábio Kápila Muni, que viveu pouco antes do Buda, e é uma escola que estuda a relação dualistica entre matéria (prakriti) e espírito (purusha), onde se obtém a “liberação” (moksha ou mukti) da Roda do Samsara através da eliminação das dores físicas, emocionais e mentais.

Origem
A darshana Samkhya é uma das seis escolas ortodoxas (Astika) da filosofia hindu. É considerada uma das mais antigas e foi sistematizada por Maharishi Kapila. As primeiras referências ao Samkhya podem ser encontradas em textos védicos e nos Upanishads, mas a forma clássica da filosofia Samkhya é amplamente derivada dos Samkhya Karikas de Ishvara Krishna, datadas aproximadamente do século IV d.C.

Linha Filosófica
A filosofia Samkhya é dualista e divide a realidade em duas entidades fundamentais:

Purusha: A consciência pura ou o espírito, que é passivo e imutável.

Prakriti: A matéria primordial, que é ativa e dinâmica, e a fonte de toda a criação material.

O Samkhya propõe que a interação entre Purusha e Prakriti resulta na manifestação do universo e de todas as suas entidades. A liberação (moksha) é alcançada quando o Purusha se torna consciente de sua separação de Prakriti, cessando assim o ciclo de renascimento e sofrimento.

Cânone
Os principais textos do Samkhya incluem:

Samkhya Karika: Uma obra de 72 versos que fornece um resumo sistemático dos princípios do Samkhya.

Samkhya Sutra: Atribuído a Kapila, embora a autoria e a datação sejam incertas. Este texto fornece uma base mais detalhada da filosofia Samkhya.

Principais Diferenças das Outras Darshanas
Samkhya vs. Nyaya: Enquanto o Samkhya é dualista, focando na separação entre Purusha e Prakriti, Nyaya é principalmente lógica e metodológica em sua abordagem do conhecimento.

Samkhya vs. Yoga: O Yoga, frequentemente associado ao Samkhya, complementa sua filosofia ao fornecer práticas de disciplina e meditação para alcançar a liberação.

Samkhya vs. Mimamsa: Mimamsa se concentra na interpretação dos rituais védicos e na justiça (Dharma), enquanto Samkhya lida com a metafísica e a dualidade entre consciência e matéria.

Samkhya vs. Vedanta: Vedanta é monista e acredita na unidade entre Atman e Brahman, enquanto Samkhya é dualista e distingue claramente entre Purusha e Prakriti.

Principais Ideias e Objetivos
As principais ideias do Samkhya incluem:

Dualismo: A distinção fundamental entre Purusha (consciência) e Prakriti (matéria).

Evolução: A criação do universo e a evolução de todas as entidades materiais a partir de Prakriti.

Liberação (Moksha): A realização de que Purusha é distinto de Prakriti, levando à liberação do ciclo de renascimento e sofrimento.

Os objetivos do Samkhya são proporcionar um entendimento claro da natureza da realidade e oferecer um caminho para a liberação, enfatizando a importância do conhecimento (jnana) na realização da verdadeira natureza do eu.

O Samkhya é essencialmente uma ciência naturalista e se desenvolveu ao mesmo tempo que o yoga. Na ancestralidade, o Samkhya e o yoga eram um só, sendo conhecidos como Sanátane Dve, que significa “Filosofias Eternamente Unas”.

Sámkhya e Yoga são consideradas por grande parte dos estudiosos como disciplinas irmãs – onde o Sámkhya é uma investigação lógica acerca da causalidade e da consciência, o Yoga se volta às práticas e experiências da consciência e dos fenômenos. Assim, as duas disciplinas compartilham em grande parte o mesmo sistema teórico;

4) – Yoga: Compilada por Patanjali, é uma escola que ensina a colocar a teoria do Samkhya em prática, através da prática da meditação e da renúncia através do samadhi (compreensão da existência e a comunhão com o universo).

A palavra vem do sânscrito “yoga” e do pali “ioga” e significa “unir” ou “juntar”.

Os principais ramos do ioga incluem Raja Yoga (controle da mente), Karma Yoga (a yoga do serviço ou trabalho), Jnana Yoga (a yoga do conhecimento), assim como a Maha Yoga (Yoga integral de Ramana Mahashi estão diretamente ligadas ao Nivritti Marga e ao Advaita Vedanta), Bhakti Yoga (o yoga da devoção), o Tao Yoga (versão chinesa do Raja Yoga), o Hatha Yoga ( a yoga vigorosa, do equilíbrio corpo e mente ou a yoga do sol e da lua), Tantra Yoga (ou Kundalini Yoga – o yoga do despertar).

Quanto a esta última, alguns dos mestres e elucidadores mais importantes dessa yoga (Tantra ou Kundalini) para o ocidente são Swami Śivananda, John George Woodroffe, codinome Arthur Avalon e Yogi Bhajan.

O Raja Yoga (a yoga real) foi compilada no Yoga-sutra de Patañjali e conhecido simplesmente como Yoga no contexto da filosofia hinduísta, e faz parte da tradição Samkhya.

Diversos outros textos hindus discutem aspectos do ioga, incluindo os Vedas, as Upanixades, a Bagavadguitá, a Haṭhayoga Pradīpikā, a Gheraṇḍa Saṁhitā, a Śiva Saṁhitā, o Mahabhārata e diversos Tantras.

A palavra sânscrita yoga tem diversos significados: deriva da raiz yuj, que significa “controlar”, “jungir”, “unir” ou “concentração”.
Algumas das traduções também incluem os significados de “juntando”, “unindo”, “união”, “conjunção” e “meios”.

5) – Mīmāṃsā: (ou Purva Mīmāṃsā) Compilado por Jaimini, é uma escola filosófica hindu ortodoxa, que significa “investigação” ou “busca” em sânscrito. O seu principal questionamento é sobre a natureza do dharma, com base na hermenêutica dos Vedas.

Segundo esta escola, a natureza do darma não é acessível à razão ou à observação e deve ser inferida a partir da autoridade da revelação contida nos Vedas, que são considerados eternos, sem autor (apaurusheyatva) e infalíveis.

Para esta corrente filosófica os Vedas representam a verdade eterna e divina ena sua correta interpretação e compreensão encontra-se a iluminação.

A escola de Mimamsa é composta por doutrinas teístas e ateístas. A sua chave é um método empírico e sensível de aplicação religiosa, que foi desenvolvido por racionalistas como Swami Vivekananda e Sankaracharya;

6) – Vedanta: (ou Uttara Mimamsa) Foi compilado por Veda Vyasa (Críxena Devaipaiana) e é uma escola que distingue o ser individual e o Ser Universal.

Ao contrário da filosofia Samkhya, o Vedanta é de característica mística, devido à influência Árya. No passado, o Vedanta combinou-se ao sistema Bramacharya (medieval) e posteriormente ao sistema Tantra (Vedanta contemporâneo).

O Vedanta representa o “Eu” (purusha) como o supremo regente de todos os centos de atividades fenomênicas e também como uma testemunha indiferente a tudo que ocorre.
No Vedanta, esse “Eu” participa das ações, contudo não se envolve diretamente nos processos e em suas consequências.

Os Darshanas são baseados nos Vedas, as escrituras dos hindus.
Eles explicam a origem do mundo, sua criação e transformação.

Porém nem todas as escolas filosóficas hindus dão autoridade aos Vedas.

há uma escola de filosofia hindu que não aceita os Vedas ou Upanishads como autoridade: o Charvaka (ou Lokayata).

A Escola Charvaka (ou Lokayata)

O Charvaka é uma escola de pensamento materialista e ateísta que rejeita a autoridade dos textos védicos e das escrituras sagradas em geral.

Os princípios fundamentais do Charvaka são:

Materialismo: A crença de que só o mundo material e perceptível pelos sentidos é real.

Hedonismo: A busca pelo prazer e a evitação da dor como os objetivos principais da vida.

Ceticismo: A rejeição de qualquer coisa que não possa ser percebida pelos sentidos, incluindo a alma (Atman) e a vida após a morte.

Embora o Charvaka tenha sido uma escola influente em certos períodos da história indiana, ele foi amplamente criticado e rejeitado pelas outras escolas de pensamento ortodoxas (Astika).

Os Vedas são um conjunto de quatro textos sagrados do hinduísmo, que são considerados o primeiro livro sagrado da história.
Eles são compostos por quatro volumes, que explicam a unidade e a variedade do hinduísmo.

Os Vedas são as escrituras mais antigas do hinduísmo e são considerados revelados pelos sábios (rishis).

Existem duas categorias de textos: os textos revelados e os textos lembrados.
Os textos revelados eram supostamente a palavra divina ouvida por um sábio primordial.
Os textos lembrados foram criados mais tarde por humanos.

OS TEXTOS SAGRADOS REVELADOS – OS QUATRO VEDAS:

1) – Rigveda: Coleção de louvores em forma de hino;
2) – Yajurveda: Coleção de fórmulas;
3 – Samaveda: Coleção de hinos;
4 – Atharvaveda: Coleção de encantos e fórmulas mágicas.

Quanto ao Atharvaveda, seus principais livros são o Bohat-Tray (Brhat TrayiTray ou ainda Bhat-Tray), traduzido literalmente como “A Grande Tríade (de Composições)” e refere-se a três enciclopédias sânscritas da medicina, que são os textos centrais do sistema médico base da Ayurveda.

Esta tríade (Bohat-Tray – Tríade maior) é formada por:

1) – Charaka Samhita;
2) – Sushruta Samhita;
3) – Ashtanga Hridayam Samhita.

Estes são contrastados com o Laghu-Trayo ou a “tríade menor”, um conjunto secundário de composições autoritárias posteriores.

A palavra “Veda” significa “conhecimento” em sânscrito. Os Vedas são considerados verdades universais sobre a alma, vida, morte, Deus, o universo, e a relação entre eles.

Para compreender os Vedas, foram desenvolvidas seis disciplinas auxiliares chamadas Vedanga.

Vedanga é uma palavra sânscrita que significa “membro dos Vedas”.

Os Vedangas são seis disciplinas que auxiliam na compreensão dos Vedas, textos sagrados do hinduísmo.

Os 6 Vedangas são:

1) – Shiksha: Fonética e fonologia do sânscrito
2) – Chandas: Métrica dos Vedas e mantras
3) – Vyakarana: Gramática sânscrita
4) – Nirukta: Etimologia das palavras
5) – Jyotisha: Astrologia e astronomia, especialmente para determinar os dias mais propícios para sacrifícios
6) – Kalpa: Instruções rituais para aplicar os mantras Vaidik, especialmente em ritos de passagem e domésticos.

Os Vedangas foram desenvolvidos para ajudar os estudantes dos Vedas a compreender as escrituras de forma holística.

O SHRUTI HINDU (CÃNONE) – MUITO ALÉM DOS VEDAS.

As escrituras hindus incluem além dos os Vedas, as Upanishads, os épicos (Ramayana e Mahabharata), os Dharmasastras, os Tantras e os Agamas, formando assim o seu cânone ou conjunto de escrituras sagradas, que são chamadas de Shruti.

Shruti é o cânone mais tradicional de escrituras hindus que se acredita serem gravações divinas de “sons cósmicos da verdade”.
A palavra Shruti vem do sânscrito e significa “aquilo que é ouvido”.
O Shruti é pacificamente aceito por todos os seis darshanas ou sistemas de pensamento hindu.

AS UPANISHADS:

Também chamados de “vedanta“, as Upanishads são textos antigos escritos em sânscrito e que fazem parte das escrituras hindus Shruti.

São considerados instruções religiosas e a base da filosofia hindu, contendo registros de experiências transcendentais vividas pelos sábios.
As Upanishads encontram-se inseridas no final do Veda total e representam uma síntese, explicação ou conclusão dos ensinamentos védicos.

A palavra Upanishad significa “sentar-se com” o mestre para aprender sobre o Atman (alma).

OS TEXTOS SAGRADOS LEMBRADOS – ÉPICOS / DHARMASASTRAS / TANTRAS / AGAMAS:

Consistem em textos pós-védicos e entre os mais importantes estão dois épicos, o Mahabharata e o Ramayana, sendo que o Bhagavad Gita é um texto inserido no Mahabharata que foca no deus Krishna.

TEXTOS SAGRADOS ÉPICOS – Ramayana e Mahabharata:

O Ramayana e o Mahabharata são épicos clássicos da Índia antiga, reverenciados no hinduísmo.
Ambos são narrativas que apresentam os ensinamentos dos sábios hindus, e que abordam temas como o karma e a luta entre o bem e o mal.

A visão mais tradicional é que os eventos que são relatados no Ramayana aconteceram em ordem anterior aos eventos narrados no Mahabharata, por conta dos yugas que são a divisão das eras consideradas pelos hindus.

Apenas para relembrar, é importante saber que os textos hindus consideram que cada era é dividida em quatro yugas:

1) – Satya ou Krya Yuga: (a era de ouro do homem);
2) – Treta Yuga: (a era de prata do homem);
3) – Dvapara Yuga: (a era de bronze do homem);
4) – Kali Yuga: (a era de ferro do homem).

* Para informações mais detalhadas sobre os Yugas clique aqui.

O Ramayana

Ocorre no Treta Yuga, a segunda fase do tempo cíclico hindu.
Descreve os deveres dos relacionamentos e retrata personagens ideaiS.
Tem referências a lugares do centro e sul da Índia, e até ao Sri Lanka.
A luta no Ramayana é mais civilizada, com maior adesão às regras da guerra.
Os personagens Rama, Sita, Lakshmana, Bharata, Hanumān e Rāvana são fundamentais à cultura indiana.

O Mahabharata

Ocorre no Dwapara Yuga, a terceira fase do tempo cíclico hindu.
Narra a Guerra de Kurukshetra, uma guerra de sucessão entre os Kauravas e os Pāṇḍavas.
As lutas no Mahabharata são mais cruas, com o povo ariano frequentemente atirando pedras uns nos outros.
A mais famosa passagem dessa obra é o Bhagavad Gita.
Krishna, que aparece no Mahabharata, foi a oitava encarnação de Vishnu (relativo ao Trimurti, representa o segundo aspecto do Logos, o “Filho” do cristianismo).

Por analogia, acredita-se que Sri Rama seja a sétima encarnação de Vishnu, enquanto Sri Krishna é considerado a oitava.

DHARMASASTRAS – OS LIVROS DAS LEIS.

Dharmaśāstra ( sânscrito : धर्मशास्त्र ) são textos sânscritos Purânicos Smriti sobre lei e conduta, e referem-se a tratados ( śāstras ) sobre Dharma.

Como Dharmasūtra que são baseados em Vedas , esses textos também são elaborados comentários de lei baseados em Vedas, os próprios Dharmashastra evoluíram de dharmshutra.

Existem muitos Dharmashastras, estimados em número de 18 a mais de 100.
Cada um desses textos existe em muitas versões diferentes, e cada um está enraizado em textos Dharmasutra datados do primeiro milênio a.C. que surgiram de estudos Kalpa (Vedanga) na era védica.

O corpus textual do Dharmaśāstra foi composto em versos poéticos, e faz parte do Hindu Smritis , constituindo comentários e tratados divergentes sobre ética, particularmente deveres e responsabilidades para consigo mesmo e com a família, bem como aqueles exigidos como membro da sociedade.

Os textos incluem discussões sobre ashrama (estágios da vida), varna (classes sociais), purushartha (objetivos adequados da vida), virtudes e deveres pessoais como ahimsa (não violência) contra todos os seres vivos, regras de guerra justa e outros tópicos.

Os Dharmasastras são importantes para o hinduísmo e para o yoga, que também compartilham raízes com o hinduísmo.
Eles fornecem informações sobre a sociedade indiana antiga e formam a base de muitas práticas hindus modernas, além de serem documentos históricos.
São compostos por aforismos, chamados sutras e fornecem comentários sobre ética, responsabilidades e deveres.

Importante lembrar que o conceito de dharma é importante no hinduísmo e significa “eterno”. O dharma se refere à vida cotidiana e espiritual, em que a pessoa deve seguir os deveres religiosos, morais e sociais.

TANTRAS – OS LIVROS DO CONHECIMENTO GERAL DAS LEIS DA NATUREZA.

Segundo fonte do sítio Wikipedia o termo “Tantra” pode ser descrito como:

“Etimologia: Tantra (em sânscrito: तन्त्र) significa literalmente “tear, urdir, tecer”.
O termo pode ser traduzido como “espargir o conhecimento” ou “a maneira certa de se fazer qualquer coisa”.
Quer dizer igualmente “tratado, autoridade, estender, multiplicar, continuar”. Também designa o encordoamento do sitar ou outro instrumento musical.

A conotação da palavra tantra para significar uma prática esotérica ou ritualismo religioso é uma invenção europeia da era colonial.
Este termo é baseado na metáfora da tecelagem, afirma Ron Barrett, em que a raiz sânscrita tan significa a urdidura de fios em um tear.
Implica “entrelaçar tradições e ensinamentos como fios” em um texto, técnica ou prática.

A palavra aparece nos hinos do Rigveda, como em 10.71, com o significado de “urdidura”.
Pode ser encontrada em muitos outros textos da era védica, como na seção 10.7.42 do Atharvaveda e em muitos Brâmanas.
Nestes textos e nos pós-védicos, o significado contextual de Tantra é aquilo que é “parte principal ou essencial, ponto principal, modelo, estrutura, característica”.

Nas smritis e épicos do hinduísmo (e jainismo), o termo significa “doutrina, regra, teoria, método, técnica ou capítulo” e a palavra aparece tanto como uma palavra separada quanto como um sufixo comum, como significado de atma-tantra ” doutrina ou teoria de Atman (alma, eu)”.

O termo “Tantra”, após cerca de 500 a.C., no budismo, hinduísmo e jainismo é uma categoria bibliográfica, assim como a palavra Sutra (que significa “costurar junto”, espelhando a metáfora de “tecer junto” em Tantra).

Os mesmos textos budistas são algumas vezes referidos como tantra ou sutra; por exemplo, Vairocabhisambodhi-tantra também é conhecido como Vairocabhisambodhi-sutra.

Os vários significados contextuais da palavra Tantra variam com o texto indiano”.
O termo tantra, nas tradições indianas, também significa qualquer “texto, teoria, sistema, método, instrumento, técnica ou prática” sistemática de aplicação ampla.

O “Tantra moderno” (Tantrismo) e o desvirtuamento do seu real significado:

Entretento, na era moderna (final do Sec. XIX até meiados do Sec. XX) criou-se uma terceira vertente para o sentido da palavra “Tantra”.
Um sentido novo e ainda mais equivocado: aquele que o liga a rituais de magia diretamente relacionados à prática sexual.

Segundo alguns autores, um dos precussores deste movimento filosófico foi o ocultista e empresário Pierre Bernard (1875-1955), que é creditado por apresentar uma filosofia tantra auto-interpretada, assim como suas práticas, ao povo americano e consequentemente ao resto do ocidente, descaracterizando-a completamente em toda a sua essência e filosofias originais, sendo por este motivo considerado equivocadamente por muitos como um conjunto de práticas ritualisticas que possuem como base a relação sexual (maithuna) e outras práticas correlacionadas.

Por outro lado, a má reputação do tantra foi corroborada, entre outros nomes, por Aleister Crowley, um influente ocultista britânico que foi membro da Ordem Hermética da Aurora Dourada (Golden Dawn) e responsável pela fundação de uma doutrina (ou filosofia, dependendo do ponto de vista) que batizou de Thelema. Ele foi o co-fundador da A∴A∴ (Astrum Argentum) e, mais tarde, um líder da O.T.O. (Ordo Templi Orientis).

Outras personalidades ajudaram a popularizar de forma direta ou indireta esta interpretação equivocada do tantra (tantrismo) e da cultura religiosa oriental como um todo, como o Guru Rajneesh (Osho ), que talvez numa tentativa incompreendida de defender à sexualidade humana, causou controvérsia na Índia durante o final dos anos 1960 e ficou conhecido como “o guru do sexo”, nos anos 1980.

Desta forma, ao longo do tempo o termo “Tantra” foi sendo gradativamente modificado e simultaneamente popularizado como técnicas orientais de obtenção de prazer orientada à satisfação dos sentidos.

Na era moderna, o Tantra tem sido estudado como uma prática esotérica e religião ritualística, às vezes chamada de tantrismo. Há uma grande lacuna entre o que o Tantra significa para seus seguidores e a forma como o Tantra tem sido representado ou percebido desde que os escritores da era colonial começaram a comentar sobre.

Muitas definições de Tantra foram propostas desde então, e não há uma definição universalmente aceita.

AGAMAS – AS ESCRITURAS TÂNTRICAS REFERENTES A SHAIVA (SHIVA), VAISHNAVA (VISHNU) e SHAKTA (SHAKTI).

Segundo a definição do sítio Wikipedia:

Etimologia:

Āgama ( sânscrito आगम) é derivado da raiz verbal गम् (gam) que significa “ir” e da preposição आ (ā) que significa “em direção a” e se refere às escrituras como “aquilo que desceu”.

Agama significa literalmente “tradição” e se refere a preceitos e doutrinas que foram transmitidos como tradição.

Agama, afirma Dhavamony, também é um “nome genérico de textos religiosos que estão na base do hinduísmo”.

Outros termos usados ​​para esses textos podem incluir saṃhitā (“coleção”), sūtra (“aforismo”) ou tantra (“sistema”), com o termo “tantra” utilizado com mais frequência para Agamas Shakta do que para Agamas Shaiva ou Vaishnava, denotando a estreita ligação de Shakti (Shakta – a porção feminina e material representada pela natureza ou o terceiro logos ou o Espírito Santo dos cristãos).

Os Agamas são estruturados dialogicamente, frequentemente como conversas entre Shiva (Śiva) e Shakti (Śakti), a sua consorte.

Os Agamas ( Devanagari : आगम , IAST : āgama ) ( Tâmil : ஆகமம் , romanizado: ākamam ) ( Bengali : আগম, ISO15919 : āgama) são uma coleção de várias literaturas e escrituras tântricas de escolas hindus.

O termo significa literalmente tradição ou “aquilo que desceu”, e os textos Agama descrevem cosmologia, epistemologia, doutrinas filosóficas, preceitos sobre meditação e práticas, quatro tipos de ioga, mantras, construção de templos, adoração a divindades e maneiras de atingir desejos sêxtuplos.
Esses textos canônicos estão em sânscrito e tâmil.

Os três principais ramos dos textos Agama são Shaiva , Vaishnava e Shakta.

As tradições Agâmicas são às vezes chamadas de Tantrismo, embora o termo “Tantra” seja geralmente usado especificamente para se referir aos Shakta Agamas.

A literatura Agama é volumosa e inclui 28 Shaiva Agamas, 64 Shakta Agamas (também chamados Tantras) e 108 Vaishnava Agamas (também chamados Pancharatra Samhitas) e vários Upa-Agamas.

A origem e a cronologia dos Agamas não são claras. Alguns são védicos e outros não védicos.

As tradições Agama incluem conceitos de Yoga e Auto-Realização [ esclarecimento necessário ] , alguns incluem Kundalini Yoga , ascetismo e filosofias que vão de Dvaita ( dualismo ) a Advaita ( monismo).

Alguns sugerem que estes são textos pós-védicos, outros como composições pré-védicas que datam de mais de 1100 a.C.
Evidências epigráficas e arqueológicas sugerem que os textos Agama já existiam por volta de meados do primeiro milênio d.C., na era da dinastia Pallava.

Os estudiosos observam que algumas passagens nos textos hindus Agama parecem repudiar a autoridade dos Vedas , enquanto outras passagens afirmam que seus preceitos revelam o verdadeiro espírito dos Vedas.

O gênero literário Agamas também pode ser encontrado nas tradições Śramaṇic (ou seja, budista , jainista , etc.
A tradição hindu de Bali é oficialmente chamada de Agama Hindu Dharma na Indonésia.

OS PURANAS – AS HISTORIAS DO TRIMURTI (OS TRÊS ASPECTOS DO DIVINO).

Purana (sânscrito: पुराण; significado com dois sentidos: pertencente a tempos ancestrais ou completo, enciclopédico), são textos antigos hindus elogiando várias divindades, principalmente o divino Trimurti Deus no hinduísmo através de histórias divinas.

Puranas também podem ser descritos como um gênero de importantes textos religiosos hindus ao lado de alguns textos religiosos jainistas e budistas, consistindo notavelmente em narrativas da história do universo desde a criação até à destruição, genealogias de reis, heróis, sábios, semideuses e descrições da cosmologia, filosofia e geografia hindu.

Os Puranas são freqüentemente classificados de acordo com a Trimurti (Trindade ou os três aspectos do divino), pertencendo à classe de livros sagrados hindus denominados smirtis, ou livros a serem memorizados.

Existem inúmeros textos classificados como puranas, e de uma maneira geral, os mais destacados são:

Os Mahapuranas são dezoito os principais, conforme listados abaixo;
Os Upapuranas, algumas dezenas, com texto incompleto ou não obedecendo a estrutura principal dos grande puranas;
Os Sthala-puranas, textos que consagram as glórias e virtudes de templos, locais sagrados e espiritualidade locais;
Os Kula-puranas, ou textos que relatam a origem e feitos de dinastias, castas ou grupos sociais.

Lista dos 18 Mahapuranas (6 de Brahma (o terceiro aspecto ou criador), 6 de Vishnu (o segundo aspecto ou conservador) e 6 de Shiva (o primeiro aspecto ou o reconstrutor):

Brahma Purānās:

Brahma Purana
Brahmānda Purana
Brahma Vaivarta Purana
Mārkandeya Purana
Bhavishya Purana
Vāmana Purana

Vishnu Purānās:

Vishnu Purana
Bhagavata Purana
Nāradeya Purana
Garuda Purana
Padma Purana
Varāha Purana

Shiva Purānās:

Vayu Purana
Linga Purana
Skanda Purana
Agni Purana
Matsya Purana
Kūrma Purana

Créditos parciais de texto:
Sitio da Wikipedia: Purana

Créditos de imagem:
Sítio eSanskriti – Shad Darshanas- Six Systems of Hindu Philosophy

https://www.esamskriti.com/e/Spirituality/Philosophy/Shad-Darshanas~-Six-Systems-of-Hindu-Philosophy-1.aspx

Bhagavad Gita: é um texto inserido no Mahabharata que foca no deus Krishna.

O termo darshana também pode se referir à experiência de ver uma divindade, um santo ou um Mestre plenamente realizado.

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