
Bavachakra ou Bavacakra, também conhecido como A "Roda do Samsara" ou "Roda da vida reencarnacionante" é representada por uma figura contendo três núcleos distintos, cada um deles representando uma determinada faceta sobre o mundo reencarnacionante que representa os ciclos de morte e renascimento do ser humano comum.
O seu centro ou círculo mais interno mostra três figuras que representam respectivamente "Os três venenos da alma" ou os "três kleshas" ou seja, as causas ou origens primordiais do sofrimento humano. São eles:
1º CÍRCULO - 0S 3 KLESHAS - "Os três venenos da alma";1) - O PORCO, que simboliza a ignorância ou delusão;
2) - A SERPENTE, que simboliza a ira;
3) - A AVE, normalmente um galo, que simboliza a vaidade ou o orgulho.
2º CÍRCULO - 0S 6 REINOS DO SAMSARA, ou os "seis reinos da existência cíclica": (em sânscrito: samsara).
No segundo círculo, ou círculo intermediário estão representados os "seis reinos da existência cíclica", os quais são conduzidos e formados pela Lei do kharma, a Lei de evolução dos veículos de expressão (a forma) e pela Lei do desinvolvimento da cosciência, os quais são respectivamente divididos em reino dois reinos: reino superior e reino inferior:
Os Reinos inferiores ou os chamados "três estados miseráveis", que representam as piores condições as quais o ser humano pode vir a retornar (reencarnar) para o ciclo encontram-se representados na parte de baixo da ilustração. Eles são, pela ordem, do pior para o melhor:
2) - Reino dos fantasmas famintos: (espíritos carentes, em sânscrito: preta);
3) - Reino dos animais: (em sânscrito: tiryak, tiryagyona).
Na parte de cima, estão os três reinos superiores:
4) - Reino dos deuses: (em sânscrito: deva): é o reino representado pelas angelitudes dévicas. Não se refere a "Deus" mas a "deuses":
Quando nós vivemos no Reino dos deuses, isso significa que possivelmente somos detentários de um bom kharma, herdado de encarnações passadas através do nosso kharma sanshita (acumulado) e por isso a vida do indivíduo que vive no "Reino dos deuses" é materialmente próspera e as vezes envolta em luxo, opulência, fama e facilidades materiais, manifestação no presente do kharma prarabda (maduro), os quais foram formados na encarnação passada, porém se realizarão, agora, na vida corrente (na encarnação ou retorno presente).
As pessoas que vivem sob a égide deste reino na sua maioria, conhecem apenas parcialmente a Lei do kharma e por experimentação ou observação sabem que a vida, através da lei de causa e efeito recompensa materialmente as atitudes de cunho material, as vezes de forma multiplicada, e por isso, costumam ajudar outras pessoas de maneira social ou econômica, sendo porém que o fazem de forma condicionada, com viés à colheita dos frutos por eles plantados. Esses "deuses" sabem que serão recompensados por seus "bons" atos.
Eles fazem o bem com vista nos frutos que irão colher posteriormente. O problema é que esta atitude, embora aparentemente boa e moral, continua gerando kharma, que embora seja positivo ou "bom" kharma, os prende da mesma forma à roda do renascimento e nesta roda, não importa em que posição você esteja, a tônica empregada é invariável: pauta-se no sofrimento e na dor (dukkha), independente da posição que ocupe o ser, ou do reino a que ele pertença.
É preciso compreender que a única condição preexistente para estar preso à "roda" é a existência de kharma, seja ele positivo (bom) ou negativo (mal). Se há kharma, haverá prisão.
Desta forma, embora sejam aparentemente favorecidos com benefícios materiais, estes "deuses" não estão isentos da dor e do sofrimento, pois a roda promove igualdade para todos que nela estão, e a igualdade em questão é embasada na dor.
A verdade é que os "deuses" estão apenas em uma cela mais confortável em relação aos demais prisioneiros (uma cela com ar condicionado e tv).
Dentre as personalidades possíveis para este reino, podem estar elencadas grandes figuras heróicas, intelectuais, figuras públicas de grande envergadura política, artística ou acadêmica, que inclusive podem ser possuidores essencialmente de bom kharma, mas que não podem ser liberados pela existência deste mesmo kharma. O kharma aprisiona incondicionalmente o ser à "roda", como um par de algemas. Daí vem o princípio de arham (eu) e mamata (meu), as duas algemas que prendem o homem ao Samsara.
Os deuses podem ainda vir dotados de poderes sobre-humanos oriundos de conhecimento esotérico, mas ainda assim, o sofrimento e a dor, assim como o ciclo de renascimentos são inevitáveis.
Deste reino fazem parte os "citrinitas" descritos pelos antigos alquimistas, homens que aprenderam a manipular e conhecer a natureza e a matéria, mas que ainda encontram-se identificados de alguma forma com elas.
Embora possa apresentar em sua personalidade outros vícios como ira, gula, luxúria, preguiça, avareza e inveja, a principal característica negativa dos habitantes deste reino é o orgulho.
5) - Reino dos semideuses: (asuras ou antideuses, os asuras são "deuses" invejosos e maus, são como os demônios, os titãs e as fúrias, ou seja os devas involutivos);
No Reino dos Asuras ou semideuses, estão aqueles que assim como os "deuses" do reino anterior os seus habitantes possuem por muitas vezes, comodidades físicas e materiais, vivem uma situação econômica privilegiada, mas o que possuem, não importa a quantidade é sempre insuficiente.
Estão sempre insatisfeitos com a vida e acreditam que não são valorizados ou que os outros possuem mais do que o que mereciam, quando comparados a si. Estão em constante luta com os outros, promovem a competitividade agressiva e podem tornar-se facilmente desonestos e desleais na defesa de seus interesses.
Para os asuras, os fins justificam os meios.
Não raro, os semideuses podem se utilizar de todo e qualquer artifício para se manterem no poder e conservarem as suas posses e conquistas e para isso não medem consequências para realizarem os seus intentos: podem roubar, matar, mentir, dissimular e trair, desde que isso realize o seu desejo. Uma vez realizado ele se empenhará na busca de outro, que nunca será suficiente ou trará completude.
A principal ferramenta psicológica dos semi-deuses é a comparação. Ele compara frequentemente a sua vida com a vida dos outros e o resultado de sua análise é sempre depreciativa. Isto é: ele conclui que não possui o que merecia e os outros possuem muito mais do que o que se esforçaram para ter.
Para eles todos os outros humanos são rivais traiçoeiros, prontos para atentarem contra o seu reino e suas conquistas.
Ninguém exceto ele é merecedor da felicidade e por isso, o mundo é sempre muito injusto e este é o motivo de serem extremamente infelizes.
Por outro lado, assim como os deuses, os asuras podem possuir poderes extraordinários, inclusive de cunho esotérico.
Os semi-deuses jamais estão satisfeitos com o que possuem e o seu principal defeito é a inveja.
6) - Reino dos humanos: é o reino ao qual fazemos parte (em sânscrito: manushya).
Importante salientar que em algumas culturas o reino dos asuras ou semideuses encontram-se incluídos entre os reinos inferiores ou nas "existências miseráveis".
Para cada reino específico, há um buddha correspondente sendo:
1) - Yama Dharmaraja: no reino dos infernos;
2) - Jvalamukha: no reino dos fantasmas famintos;
3) - Simha: no reino dos animais;
4) - Indra: no reino dos deuses;
5) - Vemachitra: no reino dos semideuses, e;
6) - Shakyamuni: no reino dos seres humanos.
3º CÍRCULO - 0S 12 NIDANAS, ou os doze elos da existência condicionada:
Há ainda o terceiro círculo, ou círculo mais externo da ilustração, que representa os "doze elos da existência condicionada", ou 12 Nidanas.
Estes 12 elos representam a concatenação de causa e efeito, a sucessão desencadeada de fatos e a sua ligação com a base mecanicista do processo de morte e renascimento.
O termo "Nidana" aparece em muitos textos hindus antigos e medievais tais como os Puranas e os Upanishads e em textos médicos como Sushruta Samhita e Charaka Samhita nos quais significa "primeira causa, causa primária, causa original ou essencial".
Na figura em questão, o círculo mais externo está dividido em doze ilustrações que demonstram a evolução ou desencadeamanto dos doze elos existenciais:
1º Elo: a mulher cega, andando com uma bengala, representa a ignorância;2º Elo: Um oleiro fazendo um pote representa a vontade;
3º Elo: Um macaco pulando de galho em galho representa a consciência;
4º Elo: Um barco com duas pessoas representa o nome e forma;
5º Elo: Uma casa com seis janelas representa o conjunto dos seis sentidos;
6º Elo: Um casal se abraçando representa o contato;
7º Elo: Um homem dramaticamente ferido por uma flecha no olho representa a sensação;
8º Elo: Um homem tomando bebida alcoólica representa o desejo;
9º Elo: Um homem ou um macaco agarrando uma fruta em uma árvore representa o apego;
10º Elo: Uma mulher grávida representa a existência;
11º Elo: Uma mulher dando à luz representa o nascimento;
12º Elo: Uma pessoa carregando um cadáver representa o envelhecimento e morte.